Ao percorrermos os registros bíblicos, não identificamos uma ordenança para a instituição de um ministério específico de evangelização de crianças, mas sim, a instrução a pais e a igreja do Senhor para que sejam facilitadores na condução desses pequenos até Cristo. Isso não quer dizer que a constituição de um ministério infantil em uma igreja local esteja fora dos princípios propostos da Palavra de Deus, mas sim, que a igreja tem buscado vislumbrar a necessidade de alcance das crianças ainda na sua tenra idade, a fim de que possa seguir pelo caminho correto ao longo de toda a sua vida (Pv 22:6), servindo com amparo seguro aos pais neste processo de evangelização.
Por muito tempo ao longo da história humana e de raízes culturais pautadas em origens malignas, as crianças foram ignoradas e desassistidas em suas necessidades espirituais. Contudo, Cristo, que é personificação do evangelho e que está acima de qualquer cultura, desenvolve seu ministério terreno demonstrando a valorização da criança e direciona seu olhar a elas, quando socialmente elas eram invisíveis (Mt 19:14; Mt 18:6).
Embora façamos a leitura desses textos bíblicos e seus contextos com indignação frente a postura dos discípulos, por vezes reagimos com a mesma discrepância, visualizando as crianças como inoportunas e barulhentas, as quais estão atrapalhando a reunião de adoração dos adultos ou mesmo a ministração da Palavra de Deus. As isolamos em um ambiente frequentemente inapropriado e as entregamos a pessoas despreparadas biblicamente, que ficam à mercê de desenhos infantis para colorir ou filmes, sem qualquer teor cristão e de edificação de vidas.
É preciso esclarecemos que o objetivo em reunir as crianças em um ambiente separado dos adultos numa classe bíblica não está em melhorar o ambiente para que os adultos possam ser ministrados pela Palavra de Deus, mas sim, ofertar um momento propício da pregação do evangelho para que esses infantos sejam alvos do amor e da salvação de Cristo, por meio do conhecimento da verdade. Isso quer dizer que a ministração conduzida às crianças tem o mesmo teor de responsabilidade e objetivo que a ministração que o pastor está a realizar no púlpito da igreja. Esse tempo é extremamente precioso e não podemos usá-lo de maneira irresponsável. Pelo contrário, precisamos remir o tempo e sermos eficazes no ensino da Palavra de Deus.
Se as crianças são importantes para o Senhor, também precisam ser importantes para sua igreja. Se Cristo entregou sua vida para as alcançar com Sua salvação, nós, sua igreja, precisamos anunciar essa verdade a elas e conduzi-las a um encontro real com o Salvador. Quando essa visão que norteia a existência do ministério com crianças está alinhada aos parâmetros bíblicos e orientação divina, então, há uma razão adequada em reunirmos as crianças em um ambiente propício, com classes divididas por faixas-etárias para a utilização de uma didática que preconize a compreensão da Palavra de Deus para crianças de todas as idades.
Se rompermos as histórias registradas na Bíblia, vamos ver que por muitas vezes, Deus utiliza-se de uma criança na construção de seu plano eterno, conduzindo com firmeza e fé a genealogia do nosso Salvador. Ressalto aqui as palavras de Luiz Sayão em seu texto intitulado “Teologia do nenê”, em seu livro Agora sim!, quando este diz:
A grande verdade é que o lugar do nenê é tão especial que Deus resolveu invadir a história humana na figura de um nenê. Em vez de descer diretamente do céu, ou de chegar repentinamente com um exército celestial para implantar seu reino, Deus preferiu a forma mais sublime de aproximar-se do homem: Vir como um nenê. Veja o que diz Lucas: “Enquanto estavam lá, chegou o tempo de nascer o bebê, e ela deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o em panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.” (Lc 2.6-7)
Costumo pensar que o ministério infantil não é mais importante do que os demais ministérios dentro do contexto eclesiástico, mas, ele é tão importante quanto qualquer outro ministério. Isso implica em dizer que nossas crianças precisam receber a mesma atenção, cuidado, zelo e condução que os adultos, jovens ou adolescentes. Suas necessidades não podem ser negligenciadas ou partirmos do pressuposto de que elas não compreendem o evangelho na sua integralidade e que, por isso, deixaremos para expô-lo a elas somente quando forem maiores. Esse é um dos grandes equívocos da igreja do Senhor. Perdemos a oportunidade de ministrá-los desde a mais tenra idade e quando já estão na fase da pré-adolescência e apresentam resistência em ouvir e praticar a Palavra de Deus, nos questionamos onde foi que erramos.
Quando avaliamos do ponto de vista da psicologia e bíblico, entendemos que é durante a primeira infância, até por volta dos sete anos de idade, que a base de suas personalidades está sendo forjadas. É nesta fase que manuseamos uma argila ainda mole e flexível, passível de ser moldada. No entanto, depois disso, a argila tende a secar e enrijecer, impedindo que seu formato seja alterado, sem que a mesma seja quebrada.
Certa vez, ouvi de meu pastor local: – “Você está com a faca e o queijo nas mãos!”, referindo-se à atuação com o ministério infantil. Isso porque em sua concepção, uma vez que as crianças sejam ensinadas sobre a Palavra de Deus, teremos adolescentes sedentos pelo Senhor, jovens que amam dedicar seus dons e talentos no serviço da obra de Deus, casamentos bem estruturados e que refletem a relação de Cristo com Sua igreja, adultos maduros e que não precisam ser ministrados com o leite espiritual e idosos sábios e conselheiros, fortalecendo as próximas gerações na compreensão de que em todo o tempo vale a pena servir ao Senhor.
Eu não sei o quanto você como líder, pastor, coordenador de ministério infantil, professor de escola bíblica tem compreendido a valorização desse ministério e atuado com eficácia em sua função. Porém, é tempo de aprumarmos nossa visão a de Cristo, buscando cumprir com excelência o chamado que dEle recebemos, a fim de que formemos uma geração fortalecida no Senhor, como verdadeiros discípulos de Cristo. Se está faltando investimento financeiro, priorizemos isso! Se é necessário o preparo de pessoas para a ministração da Palavra de Deus, separe tempo para que sejam estes uma equipe apta e conhecedora das Escrituras Sagradas. Se a estrutura física está inadequada e impede a divisão por faixas-etárias, invista tempo e dinheiro na vida das crianças para que obtenham compreensão do que está sendo ministrado. Se é ensinar os pais de suas responsabilidades, a fim de andarem juntos nesta missão e receberem o aporte do ministério infantil, trabalhe com esses homens e mulheres. Mas, não negligencie esse papel tão importante, pois as crianças são relevantes para Deus e Ele não nos terá por impune diante do sangue desses inocentes.
O “ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15) é uma ordem de Cristo a todos os seus discípulos, ou seja, eu e você. E o alvo dessa ordenança (toda criatura) inclui nossas crianças. Então, mesmo que você não esteja dentro de uma classe infantil, você também é responsável pelo alcance dessas vidas, por meio dos dons e talentos que o Senhor, nosso Deus, o conferiu.
Que sejamos achados fiéis ao nosso Deus e possamos entregar a Ele, como resultado do cumprimento da nossa missão, vidas entregues em seu Altar. Lembre-se que uma criança que reconhece a Cristo como Senhor e Salvador de sua vida, terá uma vida inteira para servi-Lo e propagar do Seu amor ao mundo. Basta que eu e você façamos a nossa parte, entendendo quão valoroso é esse ministério e que imenso privilégio temos em fazer parte da obra salvadora de Cristo na vida desses pequeninos.
Não percamos o rumo…
Deus os abençoe em Cristo Jesus!
Magali F. Borre Lopes
Líder de Ministério com crianças, bacharel em Teologia com concentração em Missiologia, formação em Pedagogia e Psicologia. Pós Graduada em Neuropsicologia Clínica.