Os Segmentos Menos Evangelizados no Brasil
Os Segmentos Menos Evangelizados no Brasil
A exemplo de Jesus, a igreja foi chamada para proclamar o evangelho do Reino de Deus de cidade em cidade e de aldeia em aldeia (Lc 8:1). A comissão de ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura, aponta para a extensão geográfica e populacional da nossa missão. Dentro do todo geográfico e do todo das multidões, o Espírito Santo procura atingir segmentos específicos da sociedade.
No Brasil há oito segmentos reconhecidamente menos evangelizados, sendo sete socioculturais e um socioeconômico.
O Censo Demográfico realizado pelo IBGE, em 2010, reconheceu a população de 817.963 indígenas no Brasil. Dentre esses, 61,5% habitam em aldeamentos e 38,5% em regiões urbanizadas ou em urbanização. Cerca de 60% da população indígena brasileira habita a Amazônia Legal, composta pelos estados do Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e parte do Maranhão. O Censo revelou, ainda, que em todos os Estados da Federação, inclusive no Distrito Federal, há populações indígenas. 1
São 340 etnias: conhecidas (228), isoladas (27), parcialmente isoladas (10), possivelmente extintas (9), ressurgidas (41) e as ainda a pesquisar (25). Há 121 etnias pouco ou não evangelizadas, ou seja, aquelas em que não há presença missionária evangélica, nem mesmo presença da Igreja Indígena. Das 121 etnias pouco ou não evangelizadas, 74 habitam áreas chamadas viáveis, ou seja, em que é possível uma interação com os povos indígenas, sem maiores barreiras. Há 69 línguas sem a bíblia traduzida. Destas, 10 línguas com clara necessidade de tradução bíblica, 28 com necessidade de um projeto especial de tradução com base na oralidade e 31 com situação ainda indefinida. Estima-se a necessidade de, no mínimo, 357 novas unidades missionárias (solteiros ou casais) para reforçar o trabalho existente e iniciar novos. 2
1.Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – Indígenas – Gráficos e tabelas.
2.Departamento de Assuntos Indígenas da Associação de Missões Transculturais Brasileiras – DAI/AMTB
Há no Brasil uma população de mais de 35 mil comunidades tradicionais na Amazônia legal (IBGE, 2010). Estima-se a existência de 10 mil comunidades ainda não evangelizadas ou sem presença de uma igreja evangélica na região Norte. As estimativas sobre as comunidades tradicionais conhecidas como “ribeirinhas”, entretanto, são gerais e sem direcionamento geográfico e/ou estratégico. A ausência de dados concretos quanto à quantidade e localização das comunidades não evangelizadas e mais carentes socialmente tem gerado duplicidade de ações, negligência de áreas mais necessitadas e ausência de uma boa estratégia de trabalho. 3
O grande diferencial na tarefa de proclamação nestas regiões, ou para essa população, é o grau de dificuldade do acesso para que a mensagem da Boa Nova seja transmitida. As barreiras são várias, tanto geográficas, quanto culturais, sociais, econômicas e de comunicação. É diferente da maior parte do país onde o acesso ao evangelho é relativamente fácil devido aos diversos meios de comunicação e a grande variedade de ministérios evangelísticos atuantes nos centros urbanos.
Das 5.178 comunidades catalogadas pelo Projeto Fronteiras, apenas 743, ou seja, 14% delas possuem presença evangélica identificada.
3. Dados do Projeto Fronteiras – Projeto de pesquisa entre comunidades tradicionais.
Originários da Índia, os ciganos chegaram ao Brasil no século XVI com uma história marcada por rejeição, perseguição, escravidão, discriminação e descaso. Há presença de, pelo menos, três etnias ciganas no Brasil: Calon, Rom e Sinti, sendo que as duas primeiras são as mais comuns em nosso território. 4
Os dados analisados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC) de 2011, recolhidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE - identificaram 291 municípios que abrigavam acampamentos ciganos, localizados em 21 estados. Aqueles com maior concentração de acampamentos ciganos são Minas Gerais (58), Bahia (53) e Goiás (38). Entretanto, dos 291 municípios que abrigam acampamentos ciganos, apenas 29 possuem local destinado a este fim.5
Segundo a AMTB, há cerca de 1.200.000 ciganos no Brasil, e apenas 1% se declara seguidor do Senhor Jesus. Os Calon brasileiros sempre utilizaram o português como língua de comunicação e, dentro da língua portuguesa, incluíram um paradialeto do Romani, que denominam de “Shib”. A maioria deles nunca ouviu falar de Jesus em seu próprio contexto e em sua própria língua.
4. Dados do MACI – Missão Amigos dos Ciganos – CCI Brasil
5. Baseado na Tabela 168 - Municípios, total e com acampamento cigano e local destinado para este fim, segundo as Grandes Regiões e as Unidades da Federação – 2011 - IBGE.
6. Coordenação-Geral de Apoio a Povos e Comunidades Tradicionais – CGPCT Ministério do Desenvolvimento Social.
Quilombolas são afrodescendentes que se organizam em comunidades próprias e mantém sua identidade. As comunidades remanescentes de quilombos se alojaram em áreas mais ou menos remotas nos últimos 200 anos.
Um levantamento da Fundação Cultural Palmares (FCP) mapeou 3.524 comunidades quilombolas no Brasil. Há outras fontes, no entanto, que estimam cerca de 5 mil comunidades. 7
De acordo com as certidões expedidas pela Fundação Cultural Palmares, até dezembro de 2017, estão oficialmente reconhecidas 2.970 comunidades, presentes em quase todas as unidades da federação. Estão assim divididas: Nordeste - Alagoas: 68, Ceará 49, Paraíba 39, Pernambuco 149, Piauí 86, Rio Grande do Norte 24, Sergipe 35, Bahia 741, Maranhão 690; Centro-Oeste - Goiás 47, Mato Grosso 73, Mato Grosso do Sul 22; Sul - Paraná 37, Rio Grande do Sul 126, Santa Catarina 13; Sudeste - Minas Gerais 299, Espírito Santo 25, Rio de Janeiro 38, São Paulo 54; Norte - Amazonas 8, Amapá 40, Pará 254, Rondônia 8, Tocantins 45. 8
Estima-se que 2.000 comunidades ainda permaneçam sem a presença de uma igreja evangélica.
7. Fundação Cultural Palmares - Certidões expedidas às comunidades remanescentes de quilombos (CRQS), atualizada até a portaria no 315/2017, publicada no DOU de 15/12/2017.
8. Os dados são parciais. Pesquisa em andamento pela Aliança Evangélica Pró-Quilombolas do Brasil.
O Censo Demográfico 2010 registrou 268.295 imigrantes internacionais. As principais Unidades da Federação de destino desses imigrantes foram São Paulo, Paraná e Minas Gerais que, juntas, receberam mais da metade dos imigrantes internacionais do período, seguidas de Rio de Janeiro e Goiás. 10
São imigrantes de 100 países diferentes. Destes, 27 são países onde não há plena abertura para o envio missionário ou pregação do Evangelho.
9. Censo Demográfico 2010.
Segundo o Censo de 2010, realizado pelo IBGE, 9,7 milhões de pessoas têm deficiência auditiva (surdas ou com limitações de comunicação). A deficiência auditiva severa, situação em que há uma perda entre 70 e 90 decibéis (dB), foi declarada por mais de 2,1 milhões de pessoas. Destas, 344,2 mil são surdas e 1,7 milhão de pessoas têm grande dificuldade de ouvir. Cerca de um milhão são jovens com até 19 anos.10
Menos de 1% se declara cristão, e há pouquíssimas ações missionárias direcionadas para eles. 11
10. Dados disponíveis em http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2016/09/apesar-de-avancos-surdos-ainda-enfrentam-barreiras-de-acessibilidade. Pesquisado em 20/01/17
11. Dados veiculados pela AMTB, no vídeo intitulado: “Oito segmentos menos evangelizados no Brasil”.
O oitavo segmento não é sociocultural, como os demais, mas socioeconômico. Divide-se em dois extremos: os mais ricos dos ricos e os mais pobres dos pobres. Segundo Ronaldo Lidório12, as últimas pesquisas nacionais demonstram que a presença evangélica é expressiva nas escalas socioeconômicas que se encontram entre os dois pontos, porém sensivelmente menor nos extremos. Em alguns Estados brasileiros há três vezes menos evangélicos entre os mais ricos e os mais pobres do que nos demais segmentos socioeconômicos.
12. Quem são os menos evangelizados no Brasil? - Artigo publicado na Ultimato Online, por Ronaldo Lidório que é doutor em antropologia e missionário da APMT e da Missão AMEM.
Pr. Elcimar Fernandes de Oliveira
Coordenador da Secretaria Nacional e Missões – SENAM e Secretaria de Desenvolvimento de Liderança e Ministérios – SEDELIM, da Convenção Batista Nacional.